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Castanha em Portugal

Agricultura
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Outono é tempo da colheita da castanha em Portugal. A castanha foi, durante muito tempo, o principal alimento das populações rurais. O fruto era considerado na época de inferior qualidade, era um alimento de eleição para os animais domésticos, com reconhecido sucesso na qualidade da carne, particularmente nos suínos. Hoje, a castanha, a nível alimentar, está mais reconhecida e, em Portugal Continental, assistiu-se, desde a década de oitenta, a um aumento significativo na área de castanheiros, com especial destaque para a região de Trás-os-Montes. Para esta situação foram decisivos alguns fatores, de entre os quais se destacam: a valorização da castanha nos mercados internacionais, consequência da diminuição da produção europeia baseada na cultura de montanha, os incentivos ao plantio no âmbito de programas comunitários, as condições climáticas favoráveis à sua expansão e ao seu desenvolvimento e a existência de material vegetativo de qualidade.

Hoje, a fileira da castanha tem elevado valor e capacidade de exportação e na região de Trás-os-Montes, a principal região produtora, cerca de 70% a 80% da castanha destina-se ao mercado externo (em fresco e transformada), quer para países da União Europeia (65%), quer para países parceiros (15%) e apenas 20% a 30% da produção regional tem como destino o mercado interno. É tempo de os produtores apostarem mais na exportação, pela valorização que o produto tem no seu preço, nos mercados internacionais, se bem que nesta região, os intermediários (ajuntadores) e as unidades agroindustriais têm grande representatividade na comercialização da castanha. No primeiro caso, a castanha é adquirida à porta da exploração dos pequenos produtores. A castanha de calibre pequeno (inferior a 30 mm) é normalmente canalizada para a indústria de congelação. A castanha de calibre médio e grado destina-se ao consumo em fresco ou à indústria de confeitaria.

Com a apanha do fruto, várias regiões e concelhos produtores divulgam as suas produções em feiras locais, algumas que já fazem parte do calendário dos eventos concelhios, quando os produtores deveriam apostar em divulgar e mostrar o que produzem em eventos que potencializassem uma maior internacionalização do produto e subsequente valorização.

Se bem que os destinos da castanha são as grandes e médias superfícies de venda e os mercados abastecedores de Lisboa , Porto e Coimbra, o mercado externo poderia absorver muito mais a produção nacional. Assiste-se que, os intermediários continuam a ter igualmente um papel importante na comercialização da castanha, juntando o produto dos pequenos produtores e entregando-o a unidades industriais que se encarregam da preparação e comercialização deste produto. A venda de castanha diretamente ao consumidor, à porta da exploração, ainda é uma prática frequente nas várias regiões de Portugal.

Portugal pode vir a ser líder europeu na produção de castanha, fruto que já rende anualmente cerca de 50 a 60 milhões de euros aos produtores, como defende José Gomes Laranjo, professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que afirmou num Congresso da Universidade que a castanha “é o petróleo” da região transmontana.

A castanha portuguesa impõe-se há décadas no mercado externo pela sua qualidade, sendo um produto que nos permite manter, com larga vantagem, um saldo positivo na balança comercial. Os principais importadores são a Espanha e os mercados tradicionais de emigração portuguesa, nomeadamente o Brasil, a França e a Suíça, entre outros.

Principais Variedades de Castanha em Portugal

A produção nacional de castanha assenta nas cultivares Longal, Martaínha e Judia em Trás-osMontes, Martaínha na Beira Interior e Bária e Colarinha no Alto Alentejo. Para além destas, podemos encontrar, principalmente em Trás-os-Montes, mais variedades. Registe-se que a nível nacional existem quatro “Denominações de Origem Protegida” (DOP) para a castanha: Castanha da Terra Fria; Castanha dos Soutos da Lapa, Castanha da Padrela e Castanha de Marvão e o controlo e a certificação são feitos por entidades privadas.

A propriedade média destes agricultores produtores de castanha é de um a um hectare e meio. O souto em Portugal faz-se da pequena propriedade, porém a excelente qualidade das variedades de castanha portuguesa levam a que, seja elevada a sua procura a nível internacional, tanto para a sua industrialização como para o consumo em fresco.

E, numa altura, em que começou a apanhar este fruto, perspetiva-se um ano de boa produção.

Hoje em dia, em Portugal, a área ocupada com castanheiros é cerca de 30.500 hectares e após uma fase de evidente decréscimo, que se fez sentir desde os anos 50 do século XX, assiste-se, a um período de evidente ressurgimento da importância da castanha, visível tanto nos maiores níveis de produção atingidos como no aumento da área de souto plantada.

Valor alimentar da castanha

A castanha que comemos é, de facto, uma semente que surge no interior de um ouriço – o fruto do castanheiro. Mas, embora seja uma semente como as nozes, tem muito menos gordura e muito mais amido, o que lhe dá outras possibilidades de uso na alimentação. As castanhas têm mesmo cerca do dobro da percentagem de amido das batatas. São também ricas em vitaminas C e B6 e uma boa fonte potássio.

As suas características organoléticas e tecnológicas são adequadas, quer para consumo em fresco, quer para a indústria transformadora, onde se transforma a castanha. Trata-se de um fruto rico em hidratos de carbono, isento de colesterol, que contém elementos minerais como o potássio, fósforo, cálcio e magnésio e valores importantes de oligoelementos como o cobre e manganês. Também os aminoácidos e as fibras são componentes relevantes. A procura crescente deste fruto está associada à sua recente inclusão na gastronomia urbana, sendo utilizadas de maneiras muito diversas: cruas, assadas, cozidas, fritas, na sopa, com carne, para sobremesas, etc., e inclusivamente começa a ser mais explorada pela indústria alimentar – congelada, pilada, confitada, em calda, em puré, em flocos, etc…

Em Portugal, o outono e a chegada definitiva do tempo frio são comemorados a 11 de novembro, dia de São Martinho, em que, um pouco por todo o país, por tradição, se comem castanhas assadas e se bebe vinho novo e água-pé.