A tecnologias tem vindo a ser implementada, para garantir uma produção mais limpa e verde que atenda as demandas atuais e futuras.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima um aumento de 25% da população mundial até 2050. Isso significa que passaremos dos atuais 7,8 bilhões para aproximadamente 10 bilhões em 30 anos. O aumento impactará ainda mais a pressão sobre os recursos naturais para geração de energia, água, alimentos e também poderá colocar em risco a existência de diversas espécies de animais e vegetais, junto com seus serviços ecos sistémicos, como o sequestro de carbono pelas plantas e árvores, a estabilização de encostas, a retenção de sedimentos, entre outros.
A preocupação com os impactos e riscos globais é cada vez maior. O relatório global de riscos publicado pelo Fórum Mundial Econômico (WEF, na sigla em inglês) informa que as cinco maiores ameaças estão diretamente associadas à perda dos recursos naturais, mais especificamente a: 1) condições climáticas extremas, 2) falha nas ações de mitigação climática, 3) desastres naturais, 4) perda de biodiversidade e 5) desastres ambientais de origem humana.
No Brasil, o aumento das queimadas na Amazônia e no Pantanal provocou uma reação internacional generalizada para que empresas reavaliem seus sistemas de monitoramento e rastreabilidade visando atender exigências e metas ambientais. Um estudo publicado em julho na revista Science aponta que, nos biomas Amazônia e Cerrado, 20% das exportações de soja e pelo menos 17% das exportações de carne bovina para a União Europeia podem estar relacionadas ao desmatamento ilegal (durante o processo de produção).
Nesse contexto, a Organização para Alimentos e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) aponta que o mundo precisará de 60% mais alimentos e 40% mais água em 2050, se continuarmos no ritmo de crescimento atual. O cenário requer uma mudança para um novo paradigma de produção: maior produtividade em áreas já abertas; mercados mais exigentes por produtos não vinculados ao desmatamento, qualidade, confiabilidade e transparência na origem dos produtos.
A busca por meios sustentáveis para nutrir a população mundial é um dos principais desafios do século 21, e a tecnologia tem evoluído e está sendo aplicada ano após ano para superar esses desafios. No campo, recurso tecnológicos apresentam resultados impressionantes, elevando o setor agropecuário brasileiro a seus patamares mais altos. No entanto, apesar dos avanços em maquinários mais modernos, melhoramento genético, biotecnologia, aplicativos celulares, e outros, ainda existem lacunas.
Uma delas está relacionada à rastreabilidade de produtos agropecuários, que permite identificar a trajetória destes ao longo de suas cadeias de produção. O conhecimento da origem e trajetória de um produto até chegar ao consumidor final é fundamental para detetar, por exemplo, madeira ou carne provenientes de áreas de desmatamento ilegal, confirmar a procedência de produtos com selo orgânico, averiguar as condições sanitárias na produção de itens de alimentação, entre outras possibilidades. Tais lacunas podem ser preenchidas por meio da utilização de novas tecnologias, como blockchain. Mas, afinal, o que é e como ela funciona?
O termo blockchain, ou cadeia de blocos em português, surgiu em 2008 no artigo acadêmico Bitcoin: um sistema financeiro eletrônico peer-to-peer. Nesse texto, blockchain é definido como uma rede que registra todas as informações de envio e recebimento de dados. Dessa forma, cria-se um histórico de transações que são criptografadas e auditáveis, tornando as transações mais seguras e confiáveis. De modo geral, funciona da seguinte forma: inicialmente, são criados blocos contendo informações de transações financeiras; cada bloco possui identificadores, uma espécie de impressão digital chamada de hash.
Hashes são cadeias de caracteres criadas por meio de métodos matemáticos para criptografar informações. Portanto, a cada nova transação, um novo bloco é gerado contendo dois hashes: um referente ao bloco atual e outro referente ao bloco anterior. Assim, os blocos passam a formar uma cadeia, conforme figura abaixo. Com os blocos conectados, ao modificar alguma informação em determinado bloco, o hash do mesmo muda, sinalizando para todos os demais que foi feita uma alteração.
Outra característica da rede blockchain são os chamados “nós”, que nada mais são do que computadores responsáveis por executar determinadas funções. Existem “nós” que geram ou escrevem em blocos; e “nós” que verificam se um bloco é válido. Todos trabalhando em conjunto para gerar e validar informações.